publicado em: 01 de abril de 2006
por: Rogério Santanna dos Santos
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Fonte: Pesquisa sobre o uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil 2005
Embora já exista um número significativo de pessoas com acesso a serviços de governo eletrônico no Brasil, esse ainda é um programa elitista, restrito à população mais educada, de cor branca e situada nas regiões mais urbanizadas e ricas das cidades. A pesquisa sobre a penetração e uso da Internet no Brasil (TIC DOMICÍLIOS) mostra claramente que o grande desafio do governo eletrônico é mudar essa tendência, possibilitando que um conjunto maior da população passe a acessar os serviços de governo eletrônico, sobretudo as camadas mais pobres para as quais pode significar grandes economias e redução de tempo.
Em uma favela, a possibilidade do cidadão substituir uma transação presencial com o governo por uma transação virtual significa uma economia considerável. Entretanto, apenas 4% dos domicílios cujos moradores usaram governo eletrônico nos últimos 12 meses localizam-se em uma favela, conforme demonstrou a pesquisa. No total da amostra, 8% dos domicílios encontram-se em uma favela. Os indicadores mostram ainda que 55% das pessoas com curso universitário completo e 51% das pessoas com curso superior incompleto utilizam os serviços de e-gov. Mas o número cai para 0,6% no caso da população analfabeta ou com curso fundamental incompleto.
Tabela 3 - Localização do domicílio
Porcentagem (%) | Total | Usou Governo eletrônico | ||
---|---|---|---|---|
Sim | Não, mas acessou a internet nos últimos 12 meses | Não acessou a internet nos últimos 12 meses | ||
Localizado em uma favela | 8 | 4 | 6 | 8 |
Conjunto habitacional | 8 | 9 | 8 | 8 |
Localizado próximo a uma favela | 17 | 12 | 16 | 18 |
Não há favela próxima | 68 | 75 | 70 | 66 |
Além disso, 38% da população que utiliza o governo eletrônico têm renda familiar superior a R$ 1,8 mil e o percentual de acesso é de apenas 2,2% para os que têm renda familiar de até R$ 300. Os dados também sinalizam que a maioria das pessoas com acesso ao Governo Eletrônico são de cor branca - conforme declararam 67% dos entrevistados que acessam o governo eletrônico. Mas a população de cor branca representa apenas 54% do universo dos entrevistados. Da população que utilizou serviços de governo eletrônico nos últimos 12 meses, 81% é considerada economicamente ativa, mas na mostra esse segmento representa apenas 63% da população.
Tabela 4 - Cor ou raçaPorcentagem (%) | Total | Usou Governo eletrônico | ||
---|---|---|---|---|
Sim | Não, mas acessou a internet nos últimos 12 meses | Não acessou a internet nos últimos 12 meses | ||
Branca | 54 | 67 | 64 | 48 |
Preta | 12 | 7 | 7 | 14 |
Parda | 34 | 26 | 27 | 37 |
Indígena | 1 | 1 | 1 | 1 |
Amarela | 0 | 0 | 0 | 0 |
Não respondeu | 0 | 0 | 0 | 0 |
Tabela 5 - Pessoa economicamente ativa
Porcentagem (%) | Total | Usou Governo eletrônico | ||
---|---|---|---|---|
Sim | Não, mas acessou a internet nos últimos 12 meses | Não acessou a internet nos últimos 12 meses | ||
PEA | 54 | 67 | 64 | 48 |
Não PEA | 12 | 7 | 7 | 14 |
A declaração do imposto de renda continua sendo o serviço de governo eletrônico do Brasil com maior penetração, mas a área da saúde se destaca entre os serviços demandados pela população. Isso, sem dúvida, é um sinal para os formuladores de políticas de governo eletrônico de que essa área merece um cuidado especial. É necessário o desenvolvimento de interfaces mais amigáveis e acessíveis para que as pessoas usem mais esses serviços. A pesquisa também destacou a procura por informações relativas a empregos, em especial sobre concursos públicos. Mas sabemos, por exemplo, que as pessoas interessadas em informações sobre concursos públicos são aquelas com um nível maior de escolarização.
Da população brasileira que utilizam o governo eletrônico, mostra a pesquisa, 42% acessam a internet de casa. Isso nos leva a concluir que a posse de um computador favorece o acesso ao governo eletrônico. O trabalho é o segundo lugar de acesso aos serviços de governo eletrônico, com uma porcentagem de 26%. As políticas de curto prazo para ampliação dos serviços de e-gov passam por estimular o uso dos serviços eletrônicos oferecidos pelo governo por aquelas pessoas que não o utilizam mesmo possuindo um computador. Por certo, duas possíveis causas devem ser analisadas: primeiro, o desconhecimento dos serviços oferecidos pelo governo eletrônico e, segundo, a falta de acesso físico à internet. Para isso, é preciso reduzir o custo do acesso à internet em banda larga para estimular a utilização dos serviços de governo eletrônico para as pessoas que têm computador.
Para possibilitar o acesso ao governo eletrônico para aquela parcela da população que não tem computador, o Governo deve investir em uma política de médio prazo para a redução das barreiras de acesso ao terminal. É o caso do Programa Computador para Todos que retirou a carga de impostos dos microcomputadores e criou uma linha de financiamento mais barata para a aquisição de computadores com software livre. O Programa visa beneficiar as classes B e C para ampliar o seu acesso a serviços de e-gov: 38% da população da classe B e 13% da classe C utilizaram serviços de governo eletrônico nos últimos 12 meses. Ressalta-se que na classe C encontram-se nossos professores de ensino médio e fundamental.
Esses indicadores mostram claramente que uma política de redução dos impostos para a aquisição de computadores favorecerá as classes sociais que mais utilizam os serviços de governo eletrônico. Para as classes D e E, que não dispõe de renda para comprar um computador e, portanto, não seriam sensíveis ao Programa Computador para Todos, é possível ampliar o acesso através de uma forte política de expansão de telecentros e de centros de acesso público pagos tais como cybercafés e lanhouses.
Nesse sentido, o acesso ao governo eletrônico através dos telefones celulares é uma alternativa importante com a ampliação da convergência digital, tendo em vista que cada vez mais os telefones celulares são também plataformas de acesso aos e-serviços. Mas, de qualquer maneira, o grande desafio do país para generalizar o governo eletrônico é melhorar a educação. Além das políticas para ampliação do acesso ao computador, as ações de longo prazo também deveriam ter como horizonte a melhoria dos níveis educacionais do cidadão brasileiro. Isso, certamente, vai contribuir para o crescimento do uso da internet e do governo eletrônico no país, além da redução da pobreza e da desigualdade.
* Rogério Santanna dos Santos é Secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento e membro do conselho do Comitê Gestor da Internet no Brasil.
Como citar este artigo:SANTOS, Rogério Santanna dos. A tecnologia de banda larga é essencial para o desenvolvimento econômico do país. In: CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil). Pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e da comunicação 2005 . São Paulo, 2006, pp. 39-42.