Relatório do Comitê Gestor do Projeto Internet no Brasil


01 AGO 1996



Autor: Prof. Carlos J. P. de Lucena

Através de portaria interministerial em Maio de 1995, o MC e o MCT criaram o Comitê Gestor (CG) Internet para a) fomentar o desenvolvimento de serviços INTERNET no Brasil; b) recomendar padrões e procedimentos técnicos e operacionais para a INTERNET no Brasil; c) coordenar a atribuição de endereços INTERNET, o registro de nomes de domínios, e a interconexão de espinhas dorsais; d) coletar, organizar e disseminar informações sobre os serviços INTERNET.


O CG optou por atuar de modo transparente, convidando membros da sociedade e potenciais provedores de serviços Internet para participarem de suas reuniões, criando grupos de trabalho em áreas estratégicas, disponibilizando um endereço Internet para receber correspondências de qualquer natureza e apresentando-se na Internet através de um servidor WWW (http://www.cg.org.br). Neste servidor, além da pauta para a reunião seguinte e dos resultados da reunião após o seu término, o leitor encontra artigos publicados por membros do CG, relatórios sobre as atividades dos diferentes grupos de trabalho e informações sobre o crescimento da Internet no Brasil. Também está disponível neste servidor, por sugestão do representante dos usuários, um Serviço de Proteção ao Usuário através do qual podem ser registradas críticas, queixas e sugestões de qualquer categoria de usuários - de usuário final a usuário de meio físico para o serviço Internet.

Visando disseminar a política adotada, o CG tem realizado suas reuniões, sempre que possível, em cidades diferentes. De julho/95 a fevereiro/96, o CG realizou 10 (dez) reuniões sendo 4 (quatro) em Brasília, 2 (duas) em São Paulo - uma a convite da FIESP e outra a convite da ABINEE, e as outras quatro nas cidades do Rio de Janeiro, Curitiba, Fortaleza e Recife - cada uma delas a convite da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado. Em pelo menos quatro estados visitados - Rio de Janeiro, Paraná, Ceará e Pernambuco - o modelo do CG estará sendo replicado em nível estadual, facilitando, no futuro, os esforços de articulação entre as espinhas dorsais federais e as estaduais.

Além destas reuniões, a convite do Itamaraty e do International Computer Science Institute (ICSI), em Berkeley, o CG se reuniu por uma semana em São Francisco, nos Estados Unidos. Durante esta semana houve um seminário com participação de cerca de 100 empresários norte-americanos, com palestras de membros do CG visando informar e debater os planos brasileiros para a Internet. Foram também visitadas diversas empresas e centros de pesquisa líderes do setor, permitindo o contato com as novas tecnologias para a Internet.

Ao longo dos seus primeiros oito meses de funcionamento, o CG defrontou-se com o problema de acompanhar a transformação do projeto Internet no Brasil, que deixou de ser estritamente acadêmico e passou a abranger toda a sociedade. Isto significou acompanhar o aumento das velocidades dos circuitos da Rede Nacional de Pesquisa, RNP, que passaria a permitir tráfego misto - acadêmico, comercial, governamental e outros, os planos do Sistema Telebrás para o estabelecimento de uma espinha dorsal nacional e o surgimento de outras espinhas dorsais nacionais que seriam implantadas pela iniciativa privada.

A espinha dorsal da RNP previu, em linhas gerais, pontos de presença em todas as capitais do país, ligação entre as capitais geradoras de maior tráfego a velocidades de 2Mbits/seg (em substituição aos 64Kbits/seg anteriores) e transformação das ligações de 9.6 Kbits/seg em ligações a 64 Kbits/seg. Para complementar a conectividade na região amazônica, incluindo as cidades Tefé (AM), Cáceres (MT), Santarém e Marabá (PA), Alcântara (MA) e Fernando de Noronha (PE), o MCT estabeleceu um convênio com o Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal.

No início de dezembro de 95, dois meses após a data prevista, o Comitê foi informado que todos os circuitos de 2Mbits/seg correspondentes à parte principal da espinha dorsal da RNP estavam operacionais. Apesar disto, ainda estão pendentes o aumento de velocidade ou instalação de algumas conexões estratégicas para o País, já que a RNP é a única espinha dorsal com cobertura realmente nacional. A situação atual das conexões da RNP pode ser vista no mapa apresentado no Anexo I.

Nesse meio tempo, o Sistema Telebrás, através da EMBRATEL, apresentou sua proposta de espinha dorsal que ligará algumas capitais do País. Até o momento, a EMBRATEL opera um único ponto de presença no Rio de Janeiro e atende os provedores de acesso de outros estados via recursos Renpac.

Em relação à iniciativa privada, a IBM implantou uma rede em estrela baseada nos Estados Unidos, que atende a quatro capitais brasileiras; a Unysis opera uma espinha dorsal que cobre também alguns estados do País e o Banco Rural, através da BR Home Shopping, tem uma cobertura nacional mais ampla. O Bradesco tem planos para atuar em breve no mercado de provimento de serviços de espinha dorsal. O mapa no Anexo II mostra a topologia e as velocidades do backbone da EMBRATEL e dos demais instalados pela iniciativa privada.

Para desenvolver suas ações e aumentar a participação da sociedade em suas atividades, atendendo a um dos objetivos definidos na Nota Conjunta emitida pelo MC e pelo MCT, o CG começou, desde a sua primeira reunião, a criar e a aperfeiçoar a organização de grupos de trabalho (GTs) cujas atividades visam fomentar o desenvolvimento de serviços INTERNET no Brasil. Este modelo é semelhante ao que vem sendo adotado por diversos países ou conjuntos de países, por exemplo pelo G7, e tem como objetivo a disseminação da tecnologia Internet junto à sociedade em áreas específicas de importância estratégica. Até fevereiro/96, foram criados os seguintes GTs:

1. Engenharia e Operação de Redes
2. Economia de Redes
3. P&D em Redes
4. Educação à Distância
5. Medicina e Saúde
6. Meio Ambiente e Recursos Naturais
7. Formação de Recursos Humanos
8. Apoio a Aplicações Comunitárias
9. Museus e Bibliotecas Virtuais
10. Articulação com a Sociedade
11. Desenvolvimento Empresarial
12. Relações Internacionais
13. Geração e Qualidade de Emprego
14. Informações Estatísticas
15. Tecnologias de Software
16. Administração Pública

Estes GTs encontram-se em fases diferentes de organização, variando desde a etapa preliminar de escolha de membros e definição de projetos até a operação plena. Os grupos de Engenharia e Operação de Redes, Economia de Redes, P&D em Redes, Educação à Distância e Formação de Recursos Humanos já estão em plena atividade e já apresentaram resultados concretos.

Tipicamente, os GTs vêm definindo projetos piloto que servem de demonstração e ilustram a viabilidade e interesse da aplicação da tecnologia Internet em determinadas áreas. A organização dos GTs tem permitido que a comunidade acadêmica interaja com a sociedade em geral, em um processo de transferência da tecnologia por ela dominada há anos. Além disto, esta organização por GTs já permitiu cooptar cerca de 160 participantes de vários setores da sociedade para o projeto Internet no Brasil.

Além de servidores WWW cobrindo o trabalho que vem sendo desenvolvido pelos GTs, estão sendo também organizados workshops, conferências e cursos sobre os temas em foco. Dois exemplos interessantes são o curso para formação de técnicos em operação de redes Internet e o workshop ocorrido durante a visita a São Francisco. O primeiro evento resultou na formação de 300 (trezentos) especialistas na administração do serviço Internet, abrangendo as nove capitais já conectadas à RNP à velocidade de 2Mbps. O segundo evento resultou no estabelecimento de um acordo que prevê a participação do GT de P&D em Redes em experimentos envolvendo o International Computer Science Institute, ICSI, nos Estados Unidos, o GMD na Alemanha e os PIRS - Pontos de Interconexão de Redes - a serem criados pelo CG no Brasil.

A área de cooperação internacional começou a ganhar impulso especial nos últimos dois meses com a criação do GT de Relações Internacionais, que conduzirá projetos piloto com tecnologia Internet em parceria com países ou regiões prioritárias para o Brasil. Todos os GTs do CG estão sendo estimulados a entrar em contato com os seus contrapartes no G7, o que já está produzindo resultados. Por exemplo, a participação brasileira nos projetos do G7 sobre Educação à Distância e sobre Internet e Governo já está em organização.

Em relação à missão de recomendar padrões e procedimentos técnicos e operacionais para a Internet no Brasil, o CG já discutiu políticas sobre a sua atuação para o registro de nomes de domínios e já tratou do problema de estrangulamento provocado pela baixa velocidade na interconexão entre os backbones da RNP e da EMBRATEL.

A questão de tarifas especiais para instituições acadêmicas foi discutida nas reuniões de setembro, outubro e dezembro de 95, resultando em uma portaria interministerial já encaminhada aos ministérios envolvidos - MC, MCT, MEC e MinC - para aprovação final. A identificação das instituições merecedoras das tarifas especiais foi facilitada porque a SEPIN/MCT já tem, em vigor, uma ampla legislação para instituições desta natureza.

A breve história da Internet comercial no Brasil começa a ser contada através da presença de 11 empresas, em abril de 1995, no servidor WWW experimental da EMBRATEL. Naquela época, a quase totalidade das cerca de 500 instituições brasileiras com presença na Internet consistia de universidades e institutos de pesquisa. Atualmente, para se saber quem atua em atividades comerciais na Internet, seja prestando serviços relacionados à tecnologia Internet ou utilizando esta tecnologia em benefício da sua atividade fim, deve-se buscar informações em um dos 10 (dez) ou mais catálogos já disponíveis na WWW sobre o Brasil. Esta alteração radical, ocorrida a partir de meados de 1995, pode ser creditada à mesma política que criou o CG, à ampliação e ação indutora da RNP e à atuação das empresas do Sistema Telebrás, que instalaram os circuitos necessários para a operação das diversas espinhas dorsais nacionais e regionais, nas quais trafega o serviço Internet.

Estatísticas mostram que o número de hosts Internet mais que dobrou em relação a janeiro de 95, passando de 8000 para 25100 (fonte: FAPESP). Isto significa que a população de usuários também acompanhou este crescimento, podendo ser estimada em cerca de 250 mil usuários no momento. Se a tendência de crescimento verificada no início de 1996 for mantida, o que é de se esperar em função da demanda reprimida, será possível chegar a um milhão de usuários até o final do ano. Para viabilizar esta taxa de crescimento, os diversos backbones que constituem o projeto Internet no Brasil precisarão sofrer ampliações consideráveis durante o ano de 1996.

Pode-se concluir que os progressos observados no projeto Internet no Brasil, foram substanciais neste período de 8 meses de atuação do Comitê Gestor. Pretende-se que os grupos de trabalho de Informações Estatísticas e de Economia de Redes passem a quantificar, no curto prazo, o número de novos empregos gerados pelo projeto. Informalmente, é possível constatar que muitas novas empresas para provimento de acesso - cerca de 113 até meados de fevereiro - e de informação foram criadas, e muitas empresas existentes recrutaram especialistas para a atuação em áreas relacionadas à Internet.

Apêndice I
Backbone da RNP em 1996

Apêndice II
Outros backbones no Brasil /1996