Pesquisa e Desenvolvimento


01 JUL 1995



Autor: Prof. José Augusto Suruagy Monteiro

A tecnologia de redes de computadores tem evoluído bastante rapidamente desde o seu surgimento no final da década de 60, e sobretudo nos últimos anos. O conceito do que seria alta velocidade para redes de longa distância, as chamadas WANs, passaram rapidamente de dezenas de quilobits para dezenas de megabits e, mais recentemente, a centenas de megabits.

Este aumento de velocidade de transmissão tem possibilitado o desenvolvimento de novas aplicações tais como vídeoconferência, visualização remota e animação que necessitam da transferência de grande quantidade de dados em questão de frações de segundo.

Deste modo, a missão do Grupo de Trabalho de Pesquisa e Desenvolvimento da Internet no Brasil, ou simplesmente GT de P&D, tem como missão a de organizar, induzir, financiar, coordenar e executar programas de pesquisa e desenvolvimento em temas avançados de redes e de aplicações de redes, visando gerar tecnologia para sustentar a evolução continuada dos serviços Internet no Brasil. Para este fim estaremos trabalhando em conjunto com o GT de Engenharia e serão utilizados os mecanismos de fomento à pesquisa disponíveis a nível federal e estabelecidas parcerias com órgãos de fomento estaduais, empresas de telecomunicações, de computação e a academia.

O GT de P&D foi confiado pelo Comitê Gestor da Internet ao LARC (Laboratório Nacional de Redes de Computadores). O LARC é uma associação sem fins lucrativos que reúne as principais universidades e instituições de pesquisa nacionais que mantêm programas na área de Ciência da Computação e que possui como objetivos principais a geração de know-how nacional na área de redes, a formação de recursos humanos e o desenvolvimento de tecnologia especializada no setor. Atualmente o GT de P&D está constituído por cinco membros da academia cujas universidades são membros do LARC e por um representante do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD) da Telebrás.

No final de julho, durante o Congresso da Sociedade Brasileira de Computação, realizado em Canela, o LARC promoveu um Workshop no qual foram discutidas a organização do GT e algumas orientações para a sua atuação, dentre as quais a definição de temas de pesquisa que, posteriormente, resultaram em projetos submetidos no final de outubro ao CNPq para financiamento.

Podemos dividir as ações do GT de P&D em ações de médio e longo prazos. Dentre as ações de médio prazo encontra-se o apoio à instalação e interligação de redes experimentais de alta velocidade. Enquanto que nas ações de longo prazo encontra-se o apoio ao desenvolvimento de projetos de pesquisa.


Redes experimentais de alta velocidade

Não há dúvidas de que a Internet necessitará de redes de alta-velocidade para atender à demanda dos serviços interativos, sobretudo aqueles que necessitam da transferência de grande quantidade de dados e até mesmo de animação, em questão de frações de segundo (entre 100 e 300 ms).

Além do mais, há toda uma tendência mundial de integração das redes de comunicação de voz, dados e imagens numa única rede, a Rede Digital de Serviços Integrados de Faixa Larga (RDSI-FL). A RDSI-FL utiliza uma técnica de comutação e multiplexação conhecida por ATM (Asynchronous Transfer Mode), que permite a transmissão, em princípio, de qualquer tipo de informação, através de canais de comunicação com taxas de transmissão que variam de 1,544 Mbps a 155 Mbps, e além, utilizando uma variedade de meios físicos desde par trançado para pequenas distâncias a fibras ópticas, sobretudo para longas distâncias.

Diante desta tendência e visando melhorar a infra-estrutura atual da Internet no Brasil, de modo a possibilitar a integração eficiente e o desenvolvimento dos serviços a serem oferecidos e a capacitação de recursos humanos, o GT de P&D, está propondo o apoio à criação de redes experimentais de alta velocidade em algumas cidades chave no País, bem como a interligação destas redes a nível nacional com enlaces de alta velocidade e com redes experimentais internacionais.

Aqui no Brasil há diversas iniciativas de abrangência local ou regional de implantação de redes experimentais de alta velocidade, em geral envolvendo a operadora de telecomunicações estadual, universidades e órgãos dos governos municipal e estadual, com a finalidade de se aprender a utilizar a nova tecnologia e como efeito demonstração de sua viabilidade e importância estratégicas. Dentre as iniciativas, já em fase de teste ou em planejamento, podemos citar as das seguintes cidades: Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, enquanto que Brasília já conta com uma rede metropolitana de alta velocidade denominada de REMAV.

Para a interligação destas redes a nível nacional, está planejada, encontrando-se atualmente em fase de licitação pelo Sistema Telebrás, a RENAV, Rede Nacional de Alta Velocidade, que vai interconectar algumas cidades do País, através de uma rede com comutadores ATM e enlaces ópticos. Pretende-se dar início a experimentos de interligação diretas a médio prazo com posterior migração para interligação via RENAV.

Com relação à interligação com redes internacionais, recentemente o GT foi convidado a representar o Comitê Gestor na negociação de um projeto piloto internacional denominado de MAY (Multimedia Applications on intercontinental-highwaY) que atualmente tem como objetivo testar os recursos emergentes de comunicação entre laboratórios de pesquisa e indústrias tanto na Alemanha como nos Estados Unidos, mas que poderá vir a ser estendido até o Brasil.

Projetos de Pesquisa

A função do GT de P&D não é a de desenvolver pesquisa diretamente e sim identificar temas de interesse e dar apoio para que as pesquisas sejam desenvolvidas nas universidades e centros de pesquisa. Atualmente há diversos projetos em andamento que estão sendo financiados pelo CNPq através do Programa Temático Multi-institucional em Ciência da Computação (ProTeM-CC), enquanto que propostas de novos projetos acabaram de ser submetidas no final de outubro, com o apoio do LARC e do GT de P&D. Dentre os temas envolvidos temos redes de alta velocidade, administração de sistemas heterogêneos, avaliação de desempenho, desenvolvimento de aplicações distribuídas, gerenciamento de redes e redes móveis.

Esperamos desta forma dar a nossa contribuição para antecipar as soluções para as necessidades da Internet no Brasil garantindo a sua evolução sem sobressaltos.


Prof. José Augusto Suruagy Monteiro (suruagy@di.ufpe.br) é Professor Adjunto do Departamento de Informática da UFPE e Coordenador do Grupo de Trabalho de Pesquisa e Desenvolvimento da Internet no Brasil.