Perfil da Internet - Brasil Virtual


01 JUL 1995



Autores: Manoel Francisco Brito e Darlene Menconi

Pesquisa inédita mostra que a tribo nacional da Internet é rica, instruída e solteira

O Brasil virtual é o contrário do Brasil real. A tribo nacional que navega pela Internet está bem de vida - mais da metade ganha acima de vinte salários mínimos - , 36% freqüentaram uma universidade, a maior parte de seus membros, 62%, fala inglês e apenas 12% dos navegantes são mulheres. Exatamente o oposto de seus compatriotas desplugados, cuja maioria mal terminou o primário, se vira com uma renda mensal de até cinco salários mínimos, freqüentemente, dado sei nível precário de escolaridade, tropeça no português e as muares formam pouco mais da metade do contigente total da população. "Sabíamos que o usuário era qualificado, mas não tanto", diz Luís Paulo Montenegro, diretor do Ibope, que assina, junto com o Cadê (www.cade.com.br), uma página de busca de informações na rede, a primeira pesquisa sobre o perfil brasileiro ligado na internet. "Pela pesquisa, o Brasil na rede tem cara de Suiça", diz Silvio Genesini, diretor da Andersen Consulting.

A pesquisa do Ibope foi a primeira feita no Brasil através da própria Internet. No endereço do Cadê, ao longo do mês de novembro um aviso convidava os navegantes a responder ao questionário. Cerca de 8 500 pessoas se candidataram. Os computadores do Cadê identificavam as máquinas na conexão, para evitar que alguém respondesse mais de uma vez. Nas respostas sobre a idade dos navegantes, Fabio Oliveira, diretor do Cadê, surpreendeu-se com o número de pessoas com mais 30 anos, 35%, que passeiam pela rede. "Existia o mito de que a internet era uma coisa mais para adolescentes", diz.

Arbitrar - Outro mito quebrado, foi o o que rezava que, para seus usuários, a Internet tem de permanecer gratuita - 58% pagariam por serviços na rede. "Não me importo em pagar se for mais barato que o convencional", diz Thomas Viertler, gerente de marketing da Microsoft no Brasil, o arquétipo do navegante nacional segundo a pesquisa, que indica que um terço da tribo é formada por pessoas que trabalham com computação. Nesse aspecto, pelo menos, não houve novidades. No Brasil, a Internet ainda é terreno de informatas. Oliveira acha também que o levantamento sobre a freqüência e o tempo de acesso à rede ficou dentro das expectativas.

Dois terços dos usuários entram na Internet pelo menos uma vez ao dia. e oito em casa dez deles conectam, passam uma hora ou mais navegando, a maioria em busca de notícias. A única coisa que a pesquisa não se arriscou a fazer foi tentar identificar o número total de usuários da rede no Brasil. até porque as estatísticas nessa área, por conta de limitações técnicas, não são exatas. Tudo o que os administradores de uma rede enxergam são os seus servidores, computadores em que os usuários se penduram para começar a navegar. o que se faz é arbitrar um número de navegantes por servidor, em geral dez. "No Brasil, existem hoje cerca de 70 000 servidores", contabiliza oliveira. ele se recusa a arriscar um número para o total de usuários, que, segundo a pesquisa, formam um exército de solitários: 63% dos entrevistados são solteiros.