Economia de Redes


01 NOV 1995



Autor: Prof. José Carlos Cavalcanti

A recente abertura da Internet para a área comercial, inicialmente nos Estados Unidos e, em seguida, nos limites do território nacional, proporciona uma nova dimensão a esta rede. Esta abertura configura a sua importância estratégica para o desenvolvimento econômico.


Paradoxalmente, ao tempo em que este novo papel da Internet emerge, materializa-se igualmente um novo universo de incertezas sobre como ela se sustentará econômica e financeiramente no futuro. Se, de um lado, no estágio inicial da Internet (basicamente a americana) se observou um "suporte" econômico-financeiro de parte de instituições de governo (como a National Science Foundation-NSF até recentemente), e na brasileira, a Rede Nacional de Pesquisa-RNP, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimen to Científico e Tecnológico-CNPq e outras instituições estatais, como a Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo-FAPESP, a fase comercial recente, por outro lado, está sendo "deixada" às livres forças de mercado.

As questões fundamentais que se podem colocar à respeito do futuro da Internet no Brasil em sua fase comercial seriam então as seguintes:
  • O Mercado está preparado para assumir a Internet ? Em caso positivo, em que condições ? Em caso negativo, por que não está preparado ?

  • Associada à primeira questão, será que o Estado já pode retirar seu apoio à RNP (agora Internet/Brasil) ? Se não pode, qual deve ser o seu papel no futuro desta rede ?

  • Em um momento em que toda estrutura das telecomunicações nacional está sendo repensada, é possivel pensar o futuro da Internet/Br isoladamente ?

  • O interesse público estaria resguardado num regime de livre competição ? Como seria preservado o interesse acadêmico que originou a rede ?

  • Para qualquer estrutura de organização da Internet/Br no futuro, seja ela competitiva, não competitiva, ou numa combinação destas duas, qual, finalmente, será sua política de formação de preços, e sua estratégia de crescimento ?

Para tais questões não existem respostas simples, tampouco definitivas. Estas notas, no entanto, procuram apontar alguns subsídios que levem a uma maior compreensão sobre como os problemas com o desenho de uma estrutura adequada de funcionamento da Internet/Br estão sendo enfrentados.

E foi nesta perspectiva que o Comitê Gestor da Internet decidiu criar, entre seus grupos de trabalho-GT's (para detalhes ver Lucena, C., 1995: O Projeto Internet no Brasil. Internet World, setembro, pgs 88-89), o GT de Economia de Redes. A missão deste GT está segmentada em duas dimensões: a Macroeconômica e a Microeconômica.

Na dimensão Macro, o GT procura dotar a Internet/Br de instrumentos para que ela se coloque a serviço da definição de um Modelo Brasileiro de Reestruturação Industrial, em um contexto de abertura e integração econômicas. Na dimensão Micro, o GT procura dotar a Internet/Br de ins trumentos da teoria e prática econômicas que dêem auto-sustentação econômico-financeira (dentro dos critérios de eficiência e equidade) aos seus objetivos primordiais de:

  • Cobertura nacional e ampla capilaridade;

  • Vasta gama de aplicações, e

  • Baixo custo para o usuário final, com papel prioritário para a livre iniciativa.

Em se observando as duas dimensões de sua missão, o Problema Principal enfrentado por este GT adquiriu também duas dimensões: a Macro e a Micro. Na dimensão Macro, o GT entende que no processo de abertura comercial recentemente instaurado no Brasil foi eliminado o antigo modelo econômico, baseado na substituição de importações, e nada (aparentemente) foi colocado em seu lugar.

Como a economia do próximo século é a economia que se baseia na produção, estoque e circulação de Informação e Conhecimento, e como a Internet é um dos mais poderosos instrumentos de dinamização desta Nova Economia, o problema central é saber O Que se deve fazer para a Internet/Br auxiliar nesta transição, Como fazer, Para Quem fazer e a Que Ritmo, de modo a tornar o país economicamente bem posicionado no século XXI.

Na dimensão Micro, o GT entende que apesar de estar crescendo em magnitude, diversidade e velocidade surpreendentes, a Internet está sujeita a uma série de Ponto de Estrangulamento, dentre os quais, destacam-se o seu Congestionamento do Tráfego e a Segurança das Informações. Estes pontos, se não diagnosticados a tempo, podem constituir verdadeiros gargalos para um crescimento auto-sustentado da rede, e, conseqüentemente, obstacularizar os objetivos econômicos maiores do país.

Neste sentido, o GT, que é composto atualmente de um grupo de professores de economia de algumas das mais respeitadas universidades brasileiras, vem elaborando estudos e organizando atividades, como seminários internacionais e nacionais, que procurem dar o suporte necessário para uma trajetória satisfatória ao desenvolvimento da Internet neste país.


Prof. José Carlos Cavalcanti (jcc@di.ufpe.br) é Professor Adjunto do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco-UFPE e Coordenador do Grupo de Economia de Redes da Internet no Brasil.