CGI.br, NIC.br e SaferNet Brasil ampliam debate sobre segurança na Internet
Sob o tema global "Juntos por uma Internet mais Positiva", evento do Dia da Internet Segura contou com a participação de especialistas de diferentes setores
A 11ª edição do evento hub do Dia da Internet Segura (SID, Safer Internet Day, em inglês), realizado no dia 5 de fevereiro em São Paulo, pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) e pela SaferNet Brasil reuniu, especialistas de diferentes setores e mais de 150 participantes, entre presentes e on-line, em torno do debate sobre temas como inteligência artificial, segurança digital e o futuro das políticas públicas de educação.
Na abertura, Demi Getschko, diretor-presidente do NIC.br, destacou a relevância do evento, que acontece simultaneamente em mais de 100 países. "Contribuir para que os usuários naveguem na Internet de forma segura e auxiliá-los a desviar das armadilhas na rede é um dos nossos objetivos", comentou. Luiz Fernando Martins Castro, conselheiro do CGI.br, parabenizou a realização do evento e o seu caráter multissetorial, ao reunir representantes de empresas, da comunidade científica e tecnológica, do terceiro setor, do Governo e especialistas da área jurídica. "A Internet não vai atingir os seus objetivos maiores, de trazer saber, riqueza e desenvolvimento à sociedade, se não tiver segurança", pontuou.
Thiago Tavares, conselheiro do CGI.br e presidente da SaferNet Brasil, apresentou estatísticas sobre denúncias recebidas em 2018 pela Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos da SaferNet, ressaltando o crescimento no número de denúncias recebidas. "São desafios complexos. Reunimos especialistas para tentar entender quais as implicações da inteligência artificial, do avanço da desinformação e como incentivar o letramento digital e para a mídia. Juntos, podemos buscar boas respostas para boas escolhas on-line". A abertura contou também com a participação de Fernanda Teixeira Domingos, Procuradora da República em São Paulo, Daniele Kleiner, Gerente de Políticas de Segurança do Facebook e Rafaela Nicolazzi, Analista Sênior de Relações Governamentais do Google Brasil.
Desinformação
Durante a palestra de abertura, Alexandre Barbosa, Gerente do Cetic.br, apresentou dados relacionados ao acesso e uso da Internet no País, à alfabetização midiática, habilidades digitais e mediação parental. Em 2017, 46% das meninas e 32% dos meninos afirmaram que viram alguém ser discriminado na Internet. Na percepção dos pais e responsáveis, 70% das crianças e adolescentes utilizaram a Internet com segurança. "Não podemos restringir o uso da Internet por crianças, pois este é um valioso meio de aprendizagem. É necessário orientá-las para maximizar as oportunidades que a Internet proporciona e minimizar seus riscos", ressaltou Barbosa.
Um dos temas do momento, a desinformação on-line, foi comentada por Pablo Ortellado, professor da USP, que chamou atenção para o papel do WhatsApp durante a campanha eleitoral de 2018. "Ele nasceu como ferramenta de mensagem interpessoal e ganhou funcionalidades de massa. Um mecanismo com criptografia de ponta a ponta, quando aplicado à comunicação de massa, permite a desinformação. Não é possível identificar a origem da informação e fazer o contraponto. Isso é muito perigoso", alertou. Alexandre Barbosa ressaltou a importância da educação. "Com a análise dos indicadores do Cetic.br sobre os usuários de Internet no Brasil, concluímos que temos um problema grande de inclusão digital não no nível de acesso à Internet, mas de apropriação crítica da utilização desta rede."
Também durante o debate, Diego Machado, pesquisador da UERJ, comentou a aplicação da reforma eleitoral nas eleições de 2018, incluindo a atuação da Justiça eleitoral em relação à remoção de conteúdo. Ainda no contexto eleitoral, Juliana Nolasco, Gerente de Políticas Públicas & Relações Governamentais do Google Brasil, apresentou ações realizadas pela empresa em parceria com o TSE, além de projetos que buscam promover a alfabetização midiática e fortalecer o jornalismo de qualidade no Brasil. Em paralelo, o Facebook Brasil está criando uma comissão de governança multissetorial para tratar de questões como a desinformação na Internet, informou Mônica Guise Rosina, Gerente de Políticas Públicas da empresa.
Segurança
Ainda no que diz respeito ao setor privado, novas iniciativas para promover a segurança digital, bem-estar e engajamento cívico dos usuários foram apresentadas durante o evento. Representantes do Google Brasil, Facebook LATAM, Instagram no Brasil e Telefônica - Vivo detalharam as políticas, ferramentas, canais de ajuda e parcerias realizadas com esse objetivo.
Durante o painel, Miriam von Zuben, Analista de segurança do CERT.br/NIC.br, reforçou que a entidade produz materiais educativos para diversos públicos (crianças, adolescentes, pais e responsáveis, educadores, pessoas com 60+ e comunidade técnica), além da realização de palestras e cursos, lembrando que todos os Guias estão disponíveis gratuitamente para download no portal Internet Segura (https://internetsegura.br/). "O NIC.br e CGI.br desempenham um trabalho muito importante de conscientização. Os materiais educativos são apenas uma das ferramentas que buscam alertar para o uso seguro da rede", destacou Eduardo Parajo, Presidente da ABRANET e Conselheiro do CGI.br responsável por mediar o painel.
Educação
No painel sobre inteligência artificial, segurança digital e o futuro das políticas públicas de educação, Cristine Hoepers, Gerente Geral do CERT.br, defendeu a necessidade de estimular o pensamento crítico entre crianças e adolescentes por meio do diálogo. Além disso, reforçou a importância do ensino da linguagem de programação para que os jovens consigam interagir melhor com a tecnologia. "Essa interação não pode acontecer de forma ingênua. É necessário o ensino de matemática, de lógica, para entender como os algoritmos funcionam. Também é igualmente importante estimular o pensamento crítico", destacou Hoepers, lembrando ainda que os fascículos da Cartilha de Segurança para Internet (https://cartilha.cert.br/fasciculos/) estão disponíveis no formato de slides e podem ser utilizados em sala de aula.
No mesmo painel, Liliane Pereira da Silva Costa, diretora do Centro de Estudos e Tecnologias Educacionais (CETEC) da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, afirmou que a cultura digital está presente dentro do currículo paulista. Já em relação à utilização de inteligência artificial na educação, Juliana Nobre, Gerente na IBM Brasil, listou oportunidades como a possibilidade de personalização do ensino, e também desafios para a privacidade e ampliação do gap de skills. Mediado por Laís Semis, da Associação Nova Escola, o painel contou também com a participação de Débora Garofalo, professora da rede pública, que destacou a importância de trabalhar conceitos de cidadania digital, ciberativismo e tecnologia assistiva. "Por onde começar? Sou fã da Cartilha do CERT.br, gosto muito de iniciar o ano letivo trabalhando esse material em sala de aula. Também com vídeos educativos e com rodas de conversa aberta e franca. É fundamental trazer as crianças para dentro do processo de aprendizagem", afirmou.
Saúde
Ainda durante o evento, especialistas debateram o bem-estar e saúde emocional em tempos de conexão constante. Com a mediação de Joana Amaral Fontoura, oficial de programas do Unicef Brasil, Karen Scavacini, psicóloga e diretora da Vita Alere e M. M. Izidoro, cineasta e idealizador da campanha “@EuEstou”, lembraram das taxas crescentes de suicídio entre os jovens e detalharam os projetos e ações de prevenção a partir de sistemas de apoio e conscientização sobre a importância da saúde mental. "Sou favorável a uma conversa aberta sobre suicídio, pois dessa forma é possível construir narrativas e histórias que promovam vínculos, vida, sentidos", pontuou Juliana Cunha, Diretora da SaferNet e coordenadora do Helpline.br.
Dimensão imaterial
Por fim, a palestra magna de Stefano Quintarelli, empreendedor, escritor e político italiano, falou sobre os tipos de economia gerados pelas novas tecnologias, seu impacto social e a necessidade de regulação, a partir das mensagens chave do seu livro "Instruções para um futuro imaterial", que teve a tradução em português lançada no evento. Quintarelli detalhou o impacto da dimensão imaterial na produção e consumo de bens econômicos e lembrou do papel das empresas de tecnologia que controlam o "portão". "O que podemos mudar? Com a regulação, podemos intervir no impacto da tecnologia na sociedade".
Durante o debate, Ricardo Abramovay, professor titular da FEA/USP, chamou atenção para a maneira como o imaterial interfere no exercício do poder político. "Nossa capacidade social de discutir leis passa cada vez mais para o domínio do mundo digital caracterizado por profunda concentração de empresas. Esse é um grande desafio para a democracia contemporânea", alertou. "Entendo o perigo dos monopólios, mas talvez esta não seja uma questão de monopólios em si, mas de poder. Ninguém está preocupado diretamente em vender, mas em controlar", complementou Demi Getschko.
Tanara Lauschner, conselheira do CGI.br, reforçou que o desenvolvimento tecnológico deve ser pautado por valores éticos, enquanto Luiz Fernando Martins Castro, mediador do debate, ponderou sobre a tributação no setor. "O tributo existe para compensar desigualdades, remediar desequilíbrios causados pela atividade. Um pretendido tributo imposto sobre essas atividades do imaterial deveria sofrer que tipo de destinação?"