4º Simpósio Crianças e Adolescentes na Internet debate o uso das tecnologias pelos jovens


19 SET 2019



Temas como LGPD, o papel das escolas na promoção da cidadania digital e relatos de boas práticas foram destaques durante o evento


O 4º Simpósio Crianças e Adolescentes na Internet, realizado no dia 17 de setembro em São Paulo, trouxe debates cruciais para o universo das crianças e adolescentes cada dia mais conectados. O evento realizado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), com correalização da SaferNet Brasil, também promoveu reflexões sobre como a escola, os pais e responsáveis podem construir juntos soluções que, tendo a criança como protagonista, levem a um uso seguro, responsável e educativo dos meios digitais.

Na abertura do evento, Kelli Angelini (NIC.br) comemorou o alcance dos guias e cursos educativos realizados pela entidade sobre o uso consciente e responsável da rede. “Em apenas um ano e meio de existência, mais de 90 mil guias Internet com Responsa foram distribuídos, além de terem sido treinados mais de 500 educadores de 300 escolas diferentes”. Thiago Tavares (CGI.br e SaferNet Brasil) destacou as mudanças ocorridas desde a primeira edição do evento, em 2016, com a dinâmica da evolução da tecnologia e dos jogos. Chamou a atenção sobre a importância das evidências, citando episódios como o da Baleia Azul (2017) que, em 2018, ressurgiu com o nome Momo, e que se tratava de uma campanha enganosa, de desinformação, descoberta a partir do trabalho da SaferNet em conjunto com parceiros internacionais.

No painel “Bem-estar, saúde e uso positivo das tecnologias digitais”, André Luiz Andrade (PUC Campinas) mostrou estudos que tratam da relação entre Internet, dependência e depressão e ressaltou a importância do uso dessas tecnologias de forma consciente por crianças e adolescentes. Já Ivelise Fortim (Janus - Laboratório de Estudos de Psicologia e TICs) trouxe a experiência de jogos utilizados para fins de aprendizagem, que buscam transmitir informações ou trabalhar as emoções dos alunos. Ela pontuou a importância da inserção desses jogos no contexto pedagógico. Daniel Spritzer (UFRGS) trouxe estudos que mostram os aspectos positivos dos jogos, quando utilizados adequadamente. Entre os benefícios pontuados estão a cooperação, criatividade, foco de atenção, orientação espacial e solução de problemas.

Promoção da cidadania digital
O papel das escolas e dos educadores na promoção da cidadania digital e do autocuidado na Internet foi destacado por Regina de Assis (TV Escola), que discorreu sobre a atuação do professor diante das possibilidades e preocupações do acesso à Internet por milhões de crianças e adolescentes brasileiros. Para ela, “a tecnologia deve ser encarada como uma linguagem, em que o suporte tecnológico faz parte, os professores, no entanto, ainda precisam se preparar para essa nova era”.

Miguel Thompson (Instituto Singularidades) reforçou a importância da construção de novas narrativas e metodologias na escola. “As crianças e adolescentes, hoje, possuem um conhecimento que pode gerar ideias nunca vistas. O professor deve se tornar um curador e orientador de conhecimento. Além disso, é importante criar momentos de ‘desconectar para conectar’, para que a solidão gerada pela dependência tecnológica não se torne uma realidade constante”. Também sobre a necessidade de que os professores se preparem para essa nova realidade, Rosa Maria Lamana (Secretaria Estadual de Educação de São Paulo) citou ferramentas como o curso de capacitação realizado pelo NIC.br em parceria com a SaferNet e os guias “Internet com Responsa”.

Participando remotamente do debate, Rodrigo Nejm (SaferNet Brasil) finalizou o painel pontuando o papel dos professores de ensinarem novas tecnologias, antes atribuído ao professor de informática. “É essencial que todo o corpo docente esteja preparado para repensar os processos de aprendizagem dentro do modo de resolução de problemas, ou seja, que o ensino seja focado não somente no mau uso causado pelo cyberbullying ou invasão de privacidade, mas que tudo isso esteja conectado dentro das disciplinas ensinadas, na leitura dessas questões e na perspectiva do aluno”, afirmou Nejm.

Experiência das escolas
No painel “Relatos de boas práticas sobre o uso consciente e responsável da Internet na Educação Básica”, Carla Arena (Amplifica) trouxe casos de uso de boas práticas digitais nas escolas que, segundo ela, precisam de três características essenciais: protagonismo dos alunos, conteúdo que converse com a disciplina e conteúdo híbrido, que mescle o físico com o digital. Grace Kelly Gonçalves (Colégio Miguel de Cervantes) apresentou a experiência da escola no desenvolvimento de uma equipe de tecnologia educacional que permeia todas as disciplinas e atividades, facilitando o trabalho do corpo de ensino.

Helena Sellani (Escola Móbile), por sua vez, relatou o trabalho da instituição na promoção da cidadania digital e a realização de pesquisas na escola sobre o tema. Os dados coletados permitiram novas soluções com a participação dos pais, a dramatização, o trabalho de empatia, o uso de ferramentas próprias para celular e a criação de um blog sobre o assunto. As boas práticas do Colégio Dante Alighieri foram apresentadas por Valdenice Minatel, que destacou a necessidade de se conectar com as crianças e jovens emocionalmente e o compromisso com a verdade como uma das principais premissas na questão da Internet, uma vez que a disseminação de notícias falsas pela Web tem se intensificado ao longo dos anos.

Concluindo o assunto, Tania Tadeu (Secretaria Municipal de Educação) destacou o currículo TPA (Tecnologias para Aprendizagem), que trabalha a cidadania digital em todas as fases escolares, e explicou que o diálogo é fundamental para que as TIC potencializem seus efeitos, criando oportunidades de exercitar criatividade, senso de aprendizagem e responsabilidade.

Proteção e Privacidade on-line
No painel “Sexualidades on-line: prevenção e encaminhamento em casos de compartilhamento não consentido de imagens íntimas (nudes) entre adolescentes”, Juliana Cunha (SaferNet Brasil) explicou os mecanismos de denúncia criados pela organização contra crimes de ódio, raciais, cyberbullying, invasão de privacidade, entre outros. “As implicações do compartilhamento de imagens íntimas de uma mulher são diferentes da de um homem. Precisamos analisar essa questão de gênero, que é muito importante”. Ela também ressaltou avanços importantes tanto na legislação brasileira quanto na tecnologia atual para coibir esses casos.

Alexandre Coimbra Amaral (Psicólogo e Terapeuta Familiar) falou das implicações psicológicas envolvidas em casos de nudes, tanto para quem é o autor do ato quanto para a vítima. “É importante que o espaço da conversa sobre o que aconteceu, na escola ou junto a um especialista familiar, seja de escoamento e segurança. Temos que partir da premissa de que ninguém sabe lidar com essa situação”, explicou Coimbra, reforçando a necessidade de que a saída seja construída de forma conjunta.

O impacto da disseminação de imagens íntimas nas redes e suas implicações também foi analisado por Kelli Angelini (NIC.br), que afirmou que levar os casos à Justiça não é a única solução: “Estamos de fato fazendo com que os envolvidos aprendam a lição quando levamos esses casos ao Poder Judiciário? O que mais podemos fazer?”. De acordo com Angelini, a prevenção é sempre o melhor caminho, por isso a importância de que todos adotem medidas, especialmente as escolas e os pais.

No debate sobre a Lei Geral de Proteção da Dados Pessoais, Karolyne Utomi (NIC.br) falou sobre as implicações do tratamento de dados de crianças e adolescentes. Marina Feferbaum (CEPI/FGV-SP) lembrou da importância da LGPD para resgatar o poder e uso correto das informações pessoais disponíveis on-line, enquanto Isabela Henriques (Instituto Alana) ressaltou que os dados de crianças e adolescentes têm prioridade nessa proteção. As escolas também precisam se planejar para se adaptarem à lei, destacou Luiza Brandão (IRIS), tanto em relação às tecnologias utilizadas e os fornecedores das tecnologias, quanto ao uso dos dados e a priorização da segurança da informação. Para Juliana Abrusio (Mackenzie e Escola de Direito do Brasil), as escolas precisam se estruturar numa governança de proteção de dados que seja sustentável no futuro.

Papel das empresas        
O último painel do dia discutiu o papel das empresas de tecnologia e da sociedade civil na proteção das crianças e adolescentes. Patrícia Blanco (Instituto Palavra Aberta) relatou o trabalho da instituição na promoção e defesa da liberdade de expressão e destacou a importância da educação midiática no currículo escolar e o papel dos professores nesse processo. A conectividade nas escolas brasileiras foi abordada por Paulo Kuester (NIC.br), que explicou o projeto Medidor Educação Conectada, realizado pelo NIC.br em parceria com o Ministério da Educação, que busca entender o acesso à rede nesses locais.

Luciene Paulino (UNESP) apresentou o projeto #SomosContraOBullying, enfatizando que um dos meios para combater o bullying é o sistema de apoio entre iguais, com alunos se ajudando na escola e acolhendo seus pares.

Já a atuação de plataformas como o Facebook na proteção on-line foi destacada por Daniela Kleiner, que explicou que a rede social constrói recursos educacionais para o perfil de crianças de 13 a 17 anos e trabalha para restringir o acesso a conteúdo inadequado por menores de idade. A atuação das operadoras para garantir a proteção e uso consciente da tecnologia foi comentada por Marcela Fernandes (VIVO). “Mais do que fornecer tecnologia para a população, temos o objetivo de estimular o uso seguro, construir sociedades digitais, desenvolver plataformas mais equitativas e algoritmos responsáveis”. Também durante o evento, Rafaela Nicolazzi (Google) reforçou que o objetivo da empresa é capacitar crianças e adolescentes para que sejam cidadãos digitais, ajudando-os a navegarem de forma segura, confiante e responsável na Internet.

Também durante o Simpósio o CGI.br, por meio do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do NIC.br, divulgou os indicadores inéditos da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2018, que destaca o crescimento do uso da Internet em atividades multimídia por crianças e adolescentes de 9 a 17 anos que são usuários de Internet.

O 4º Simpósio Crianças e Adolescentes na Internet está disponível na íntegra no canal do NIC.br no YouTube, reveja: https://www.youtube.com/playlist?list=PLQq8-9yVHyOYX9BipftGWAaFOMopImqPw.