E EU, O QUE POSSO FAZER?

Na Internet todos podemos expressar nossas ideias e, com elas, atingir diferentes públicos. Independentemente do meio pelo qual enviamos nossas mensagens — se mais ou menos privado —, é importante lembrar que somos responsáveis pelas informações que compartilhamos e que suas consequências nem sempre se restringem ao mundo digital. Uma notícia falsa ou uma mensagem de ódio pode silenciar pessoas ou grupos inteiros, prejudicar relações sociais — inclusive de trabalho — e até levar à morte. Além disso, podemos ser responsabilizados judicialmente. A discussão de ideias e posições, a defesa de propostas, partidos e candidatos faz parte da discussão democrática saudável em tempos de eleição e é direito garantido a todos nós. Mas temos que tomar cuidado para não alimentar a desinformação ou sermos vítimas dela. Aqui vão algumas dicas que devem nos ajudar a ser mais responsáveis na hora de acessar e compartilhar informações encontradas na Internet:

O PODER DE UMA MENTIRA

Em maio de 2014, uma notícia chocou o país. Tratava-se do linchamento de uma jovem de 33 anos na cidade de Guarujá, litoral de São Paulo. Ela foi amarrada e espancada por dezenas de vizinhos do seu bairro até a morte. A motivação dos agressores foi um boato espalhado pelas redes sociais de que a mulher sequestrava crianças para praticar rituais de magia negra.

1. DESCONFIE DE TÍTULOS BOMBÁSTICOS:

desde os jornais e as revistas impressas, foram se desenvolvendo diversas técnicas para chamar a atenção do leitor e uma delas é o título, o primeiro contato com a matéria. Títulos muito bombásticos devem ser analisados com cautela, pois nem sempre refletem o conteúdo da notícia compartilhada. Uma prática comum de desinformação é a veiculação de títulos escandalosos que distorcem conteúdos antigos ou pouco relevantes.

2. PENSE ANTES DE CLICAR:

seu clique é valiosíssimo para muitos agentes econômicos que atuam na Internet e que farão de tudo para chamar sua atenção. Caso encontre uma informação interessante, mas que lhe gere algum tipo de desconfiança (por exemplo, porque traz um dado muito urgente ou novo que não foi veiculado em nenhum outro lugar ainda), observe a fonte antes de clicar, pois algumas páginas podem ser criadas com o objetivo de obter dados específicos sobre você ou até mesmo atacar seu computador. Mas preste atenção: às vezes os sites criados para difundir conteúdos falsos possuem nomes muito parecidos com o de veículos de comunicação tradicionais.

3. VERIFIQUE AS FONTES:

uma forma de checar uma informação proveniente de uma fonte duvidosa é procurando a mesma informação no seu mecanismo de busca de preferência. Lembre-se de que os principais meios de comunicação já se encontram presentes também no meio digital e buscam noticiar com agilidade os principais fatos ocorridos no país e no mundo; portanto, caso a informação seja verdadeira, você certamente a encontrará em veículos conhecidos. Se for uma mentira, também é possível que você encontre relatos de outras pessoas questionando a veracidade da mesma notícia.

4. DUVIDE DE INFORMAÇÕES COMPARTILHADAS SEM REFERÊNCIAS:

quando receber alguma mensagem que não contenha referências (autor e data, por exemplo) ou fontes, pergunte à pessoa que a enviou como ela recebeu tal mensagem e como você pode verificar sua procedência. Outra opção é buscar on-line se há registros dessa informação em algum veículo de sua confiança. O mesmo vale para fotos e vídeos, que podem ser compartilhados com títulos que os descontextualizem.

5. NA DÚVIDA, NÃO COMPARTILHE:

nem sempre temos tempo de verificar tudo o que vemos ou recebemos; afinal, estamos expostos a uma quantidade imensa de informações diariamente. Nesse caso, a não ser que tenha plena confiança na fonte, não compartilhe uma informação sem verificar. Mesmo se enviada apenas para seu grupo fechado de familiares, ela pode causar estragos se alguém não romper com a corrente. Resista à tentação. Você terá outras oportunidades de analisar o conteúdo com mais calma e comentá- -lo se quiser.

6. NÃO SE CALE:

Lembre-se de que muitas plataformas possuem canais nos quais você pode denunciar conteúdos que considere abusivos ou desinformativos e não hesite em utilizá-los, caso se depare com esse tipo de material. Expressões de ódio são muito danosas à democracia e não são permitidas pelos Termos de Uso de várias redes sociais; é seu direito como usuário denunciar esse tipo de conteúdo. Além disso, caso você receba um conteúdo que saiba ser falso, avise a pessoa que o compartilhou e a oriente sobre os riscos desse tipo de material.

CHECAGEM DE INFORMAÇÕES

Existem várias formas de checar informações por meio de técnicas empregadas pelo jornalismo há muitos anos. A principal é buscar dados oficiais ou as pessoas ou instituições diretamente envolvidas nos fatos para que possam relatá- -los ou comprová-los. Isso é bem mais fácil com a Internet: por exemplo, se alguém afirma que o desemprego aumentou no último ano, basta buscar os dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ou outro órgão oficial que trabalhe com esses dados. Mas nem sempre temos tempo para fazer esse tipo de checagem. Muitas vezes é mais simples fazermos uma busca e verificar o que dizem outras fontes sobre o tema. E mesmo isso pode ser complicado.

Com vistas no volume de informações que recebemos das mais variadas fontes diariamente, surgiram algumas agências jornalísticas especializadas na checagem de informações. Sejam falas de políticos ou candidatos durante o período eleitoral ou notícias que circulam pelas redes, essas agências buscam verificá-las a partir de metodologias detalhadas. Há diversos debates sobre o papel que elas assumem e como impedir que se tornem um novo mecanismo de controle sobre o que seriam ou não fatos verídicos.

Além disso, como em qualquer situação, as agências de checagem também podem se equivocar. Mesmo assim, essas agências de checagem ou fact-checking podem ser fontes de referência para verificarmos, de forma mais rápida, se uma informação recebida é falsa. Já existem várias delas atuando no Brasil. Além disso, alguns meios de comunicação fazem projetos específicos de checagem de declarações de políticos durante o período eleitoral, assim como pesquisadores e grupos de pesquisa. Fique de olho!

Identificar o que é verdade ou mentira nem sempre é uma tarefa simples e, como sabemos, há várias visões de realidade possíveis, com as quais temos que saber conviver independentemente das nossas crenças pessoais. Expor nossas opiniões e defender nossas ideias é fundamental, principalmente no período eleitoral, mas podemos buscar argumentos que não dependam da desinformação para manter o debate saudável.

As dicas reunidas aqui visam ajudar você a não ser manipulado pela desinformação e por grupos com interesses alheios aos seus, mas o fundamental é ter bom senso. Você pode usar suas experiências prévias como consumidor de notícias para identificar quais conteúdos e fontes de informação são ou não confiáveis. Mais do que o tamanho do veículo de comunicação ou a formação profissional de quem compartilha o conteúdo (muitos se lembrarão de erros cometidos por grandes jornais e jornalistas renomados, por exemplo), vale observar seus compromissos éticos com a informação e a responsabilidade com que lidam com a comunicação.